A pantomima serve perfeitamente onde as línguas se embaralham no meio
da ignorância comum.
A obra cômica, se realizada com vida, pode ser tão grandiosa quanto uma
tragédia grega.
Todas as minhas aspirações secretas, contidas, são satisfeitas quando escrevo e realizo um filme como O Grande Ditador. Entre o ditador e eu, não consigo distinguir qual é o verdadeiro Chaplin.
Muita gente me pergunta onde foi que me inspirei para criar a minha peronagem. Na verdade, Carlitos aparece como sendo a síntese de muitos ingleses que eu via em Londres quando era jovem: tipos de pequena estatura, de bigodinho pretos, roupas bem justas, e sempre portando uma bengala de bambu. A idéia da bengalinha foi a mais feliz de todas, pois foi ela que caracterizou a personagem e a tornou conhecida mais rapidamente. Desenvolvi o seu uso ao ponto de torná-la cômica por si só - por exemplo, quando ela se enroscava no pé de alguém ou puxava uma pessoa pelo ombro. Muitas dessas cenas acabavam por se tornar, inesperadamente, muito engraçadas.
Na verdade, a personagem Carlitos - essa figura que não sou eu,
mas que se assemelha comigo como a um irmão - é para mim uma terrível
responsabilidade.
Sem minha mãe, acho que jamais teria me saído bem na pantomima. Ela possuía a mímica mais notável que já vi. Às vezes, ficava durante horas à janela, olhando para a rua e reproduzindo com as mãos, os olhos e a expressão de sua fisionomia tudo o que se passava lá embaixo. E foi observando-a assim que eu aprendi não somente a traduzir as emoções com as minhas mãos e meu rosto, mas sobretudo a estudar o homem.
As duas personalidades que eu mais desejaria recriar em um filme seriam
Napoleão e Jesus Cristo... Não representaria Napoleão como um general
poderoso, mas como um ser fraco, taciturno, quase melancólico e sempre
importunado pelos membros de sua família. Quanto a Cristo, gostaria
também de modificá-lo no espírito das massas. Acho que a personagem mais
forte, mais dinâmica e mais importante que já existiu, acabou por ser
terrivelmente deformado pela tradição. Mostrá-lo-ia, então, acolhido em
delírio por homens, mulheres e crianças. As pessoas iriam ao seu
encontro para sentir seu magnetismo. Não mais seria um homem piedoso,
triste e distanciado; um solitário que acabou por ser o maior
incompreendido de todos os tempos.
Creio que Monsieur Verdoux é o melhor e o mais brilhante dos
filmes que já fiz.
Faço parte do mundo - e no entanto ele me deixa perplexo.
No fundo, sou um pierrot sentimental.
Não posso crer que nossa existência não tenha sentido, que seja mero
acidente. como nos querem convencer alguns cientistas. A vida e a morte
são determinadas demais, por demais implacáveis, para que sejam
puramente acidentais.